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Percepções sobre morar fora #1

Posted on quarta-feira, março 04, 2015

Moro, há 13 meses, fora de casa.
Antes de mais nada, preciso deixar claro que esse post não tem uma finalidade muito definida. A princípio, vai apenas me auxiliar a perceber o que penso sobre o tempo que tenho passado longe da minha cidade, da minha família, de tudo que amo.
Parece que foi ontem que visitei o pensionato de freiras onde moro atualmente. Mas não foi. Foi ainda durante as férias de verão, com pressa e cheiro de motor de ônibus, suor e ansiedade. Uma casa simples, mas com um quarto só pra mim, e quatro irmãs (com hábito e tudo) que comandam o local, onde habitam mais de 15 meninas por semestre - frequentemente mudando. Banheiros compartilhados, cada uma por sua comida e sua limpeza. Mesmo assim, um lugar acolhedor e limpo pra passar o semestre.
Antes, gastava mais ou menos três horas por dia viajando de micro-ônibus, de casa para a universidade, e de lá para casa. Gastava muito mais do que gasto atualmente. Perdia tempo. Perdia sono. E perdia muita, muita paciência.
Agora, mais de um ano, ainda não sei o que pensar. Certamente eu sinto muita saudade de tudo que me pertencia antes, tudo que fazia parte da minha rotina. Mas aprendi muitas coisas novas: a rotina de fazer comida (ou passar fome) e ter de lavar toda a louça (que descobri não sumir, por mágica de mãe, da pia); ter mais paciência com os outros - e pensar, contra todos os impulsos, que a menina ao lado não vai tomar banho quando você queria ir só por sacanagem: ela também tem pouco tempo; perceber a bagunça do quarto quando ele fica inabitável (e, mais uma vez, a mágica de mãe não acontece)...
Com essas coisas que eu relatei parece que nunca fiz nada da vida. Mas não se trata disso! O fato é que ter a obrigação de fazer tudo isso, de ser a única pessoa responsável por si.... Isso é novo!
Ficar doente fora de casa, posso dizer, é a pior coisa. Talvez só perca para o fato de que sua família, lá longe, também fica doente de vez em quando - e aí você morre de preocupação e não pode fazer nada.
Interessante fazer a observação de que esse post começou a ser escrito há 9 meses, quando eu estava fora há apenas 4 meses. Por isso ele ficou parado: eu ainda não tinha percepções claras sobre o que é morar fora. A saudade dos livros, dos instrumentos musicais, do conforto e, principalmente, da família cegava e fazia pensar que doía mais do que de fato dói.
A intenção é escrever mais sobre isso. Talvez você esteja na mesma situação que eu, talvez tenha uma história para contar (pode comentar aqui, se quiser!). Talvez eu só esteja colocando emoções em palavras... Seja o que for, haverá mais.